segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Literatura Catarinense

O fascínio da palavra

Flávio José Cardozo é o terceiro entrevistado da série de conversas com os autores catarinenses

Toda uma geração de leitores brasileiros, a partir dos anos 1970, pôde apreciar a obra do grande escritor argentino Jorge Luis Borges pelas traduções feitas pela Globo de Porto Alegre. Secretário da editora gaúcha até 1975, o escritor catarinense Flávio José Cardozo traduziu duas das principais obras de Borges, O Aleph e História Universal da Infâmia, enquanto a equipe de tradutores da Globo, dentre os quais estava o poe-ta Carlos Nejar, se encarregou das versões de Ficções, O Livro dos Seres Imaginários, O Informe de Brodie e O Livro de Areia.


Nascido no Guatá, distrito de Lauro Müller, em 1938, no pé da Serra do Rio do Rastro, o contista e cronista Flávio José Cardozo, no entanto, não utilizou imagens e experiências de sua terra natal em seus dois primeiros livros, o premiado Singradura (de 1970, considerado uma das melhores estreias literárias nacionais) e o mordaz Zélica e outros (de 1978), ambos ambientados numa Florianópolis provinciana da década de 1950. O Guatá viria aos poucos na obra de Flávio, em contos, crônicas (muitas delas publicadas aqui no DC), e no título do livro de contos que se lê como um romance que ele publicou pela Record em 2005.


Autor de 14 livros, sem contar os quatro que organizou com Salim Miguel e o que está para sair este ano, Sopé, de contos e crônicas com ilustrações do amigo e vizinho Tércio da Gama, pela Editora da Unisul, Flávio José Cardozo foi diretor da Imprensa Oficial de Santa Catarina e da Fundação Catarinense de Cultura. Para esta entrevista com o autor de, entre outros, Beco da Lamparina (1987) e Tiroteio depois do filme (1989), a terceira da série de conversas com escritores catarinenses que o DC Cultura vem publicando desde março, convidamos o “epicurista” (como Flávio o chamou em uma crônica que reproduzimos na central deste caderno) Jair Francisco Hamms, outro excelente pros(e)ador.

DC Cultura – Como e quais foram os seus primeiros estudos e as suas primeiras leituras?

Flávio José Cardozo
– Foram na inesquecível escolinha primária do Guatá, no pé da Serra do Rio do Rastro, um distrito de Lauro Müller. A biblioteca do Guatá, me lembro disso com emoção, era meia prateleira de um armário. Era uma escola bem pobre. Mas, naquela meia prateleira, estavam lá uns 10 ou 12 livrinhos que me marcaram. Aqueles livros para criança, como a história do tapete voador retirada das Mil e Uma Noites. Mas foi nessa escolinha que eu descobri o fascínio da palavra. A palavra escrita despertou em mim qualquer coisa, íntima, que me levou pela vida afora. Quando eu vou falar nas escolas, e me perguntam como eu descobri que queria ser escritor, digo que não fui eu que decidi ser escritor, mas que alguma coisa decidiu por mim quando eu me tornei um curioso da palavra. E isso aconteceu lá em criança, bem criança, logo no começo da aprendizagem da língua, quando eu comecei a ter acesso àquelas historinhas. Acho que ali começou o escritor, porque ali começou uma afinidade com a palavra que é básica para o ofício do escritor.

DC Cultura – O senhor estudou no Guatá até que idade?


Flávio –
Até os 11 anos, porque nessa época apareceu por lá um padre arrebanhando vocações sacerdotais. Um padre do Seminário de Turvo fazendo propaganda, e não deu outra, uns 20 meninos da região, que era muito pobre, foram estudar lá para ampliar os horizontes. Meu pai foi mineiro, mas naquela época já era um pequeno comerciante, tínhamos melhorado de vida, mas continuava sendo uma vida modesta. Foi uma oportunidade de sair daquela escola acanhada. Para mim foi fundamental, porque lá não tínhamos só meia prateleira de livros, mas sim o que se podia chamar de uma biblioteca. Era de uma ordem muito pobre, os Servos de Maria, os servitas. Da minha turma, temos hoje um bispo importante dentro do episcopado brasileiro, o Dom Moacir Grech (atual arcebispo de Porto Velho, Rondônia), que foi amigo do Chico Mendes quando estava no Acre. Fiquei um ano e meio lá, foi importante porque eu aprendi muitas coisas, mas, no final, percebi que eu não tinha nenhuma vocação. Depois, fui fazer o ginásio em Tubarão.

DC Cultura – E o que o senhor fez depois?


Flávio –
Morei primeiro na casa da minha avó, até meus pais se mudarem para Tubarão. Mas minha carreira de estudante foi muito irregular. Não cheguei a terminar o curso superior, frequentei o curso de Jornalismo na PUC em Porto Alegre. Antes disso, fui para Curitiba, onde tive o meu primeiro emprego, como revisor no Diário do Paraná, dos Diá-rios Associados. Eu tinha 17 anos, e, no tempo que fiquei lá, nunca vi a cor do meu salário integral, porque eles sempre pagavam com vales. Depois vim morar em Florianópolis, em 1958, estudei no Dias Velho, concluí o secundário e, logo em seguida, casei. Conheci a Isabel, que morava aqui em Florianópolis – e era Cardoso também (com “esse”), não era parente –, namoramos e casamos em 1961. Trabalhei depois na Souza Cruz, em Tubarão, da qual saí por razões políticas. Fui candidato a vereador, nem me lembro por qual partido. O Osvaldo Della Giustina, meu amigo, saiu candidato a deputado federal e me convidou para disputar a Câmara de Tubarão. Na época, eu também dava aulas de português na Escola do Comércio. Acabei aceitando, a princípio relutante, mas, depois, o gerente do Departamento Pessoal da Souza Cruz me chamou e disse que a empresa não permitia que funcionário se candidatasse. Achei um absurdo; saí, mantive a candidatura e recebi 80 votos. Acabou ali a minha carreira de político. Esse episódio me fez lembrar uma frase do Saramago: “Falemos alto de livros, falemos baixinho de política”.


DC Cultura – Nessa época, o senhor já escrevia?


Flávio
– Sim, eu escrevia desde o seminário, que me proporcionou uma coisa muito importante na minha vida, que foi conhecer um excelente professor de português, o frei Romeu. Aliás, a minha primeira crônica no Diário Catarinense chamou-se Padroeiro. Na edição número 1 do DC está lá, Padroeiro. Era uma homenagem ao frei Romeu, porque foi um professor extraordinário, que me estimulou a ser escritor. Ele lia muito, tinha lá os seus autores prediletos, escrevia muito bem e, sobretudo, era exigente com as nossas redações. Aquilo era uma segunda religião dele, pegar o texto da gente, por mais que caprichássemos, e reduzir aquilo à metade do que tínhamos escrito. Ele sempre queria mostrar e provar que era possível usar menos palavras, ter poder de síntese. Isso influenciou muito a minha maneira de escrever. Bem mais tarde, eu li uma entrevista do Mario Quintana em que ele disse que teve uma professora que costumava dizer: “Não adianta escrever mais do que uma página, porque mais do que isso eu jogo fora”. Era uma coisa assim. O frei Romeu tinha isso. Foi o melhor professor que eu tive, porque ele tocou justamente na coisa que me impressionava desde pequeno, que era a palavra. Ele me mostrou que a palavra é um instrumento que não pode ser usado de qualquer maneira.


DC Cultura – Foi esse estímulo que o levou a fazer a faculdade de Jornalismo?


Flávio
– Minha passagem pelo curso de jornalismo foi mais em função de um convite de um amigo. Eu já estava trabalhando na Globo de Porto Alegre. Tinha um amigo, lá, o português Rui Diniz Neto, foi diretor da Revista do Globo e também gerente de vendas, uma figura extraordinária. Por afinidade, pelas nossas conversas sobre literatura, ele disse que estava fazendo jornalismo na PUC e que eu deveria ir lá também. Mas eu fiquei lá por pouco tempo, fiz apenas dois anos do curso.

DC Cultura – E como o senhor foi trabalhar na Globo?


Flávio
– Eu entrei na Globo no Departamento de Vendas, depois que eu saí da Souza Cruz. Eu já estava casado, com três filhos, então, me toquei para Porto Alegre, em 1964. Trabalhei um tempo como vendedor de livros, e depois entrei na Globo, também como vendedor. Mas por pouco tempo. Teve um concurso de contos universitários promovido pela Folha da Tarde – eu estava na PUC –, e ganhei os dois primeiros lugares. Daí a Cremilda Medina, jornalista e professora da USP, que trabalhava na Globo e era da comissão julgadora, gostou do meu trabalho e me levou para o Departamento Editorial. Logo depois, eu fui premiado no Concurso de Contos do Paraná, um badalado concurso nacional. O ganhador foi o Dalton Trevisan; e havia cinco menções, que foi a Lygia Fagundes Telles, o Ignácio de Loyola Brandão, o Luís Vilela, o Jurandir Ferreira e eu. Daí a Globo me pediu um livro. Mas eu só tinha três aqueles contos premiados: Longínquas Baleias, Santa Amelinha e Olindona. Os outros que eu havia escrito não tinham a mesma unidade temática. Levei um ano para entregar o livro pronto, com 20 contos, os três premiados e mais 17, todos eles se passando aqui na Ilha, numa mesma época, com aquela unidade que eu prezo, que eu acho fundamental num livro de contos. Foi assim que saiu o Singradura.


DC Cultura – Por que o segundo livro demorou oito anos para sair?


Flávio
– Eu sempre fui meio lento para escrever. Fiz aqueles 17 em um ano porque a editora me cobrou o livro, e eu sou daqueles que trabalha sobre pressão. Se houver pressão, eu produzo; senão eu vou devagar. O segundo livro, Zélica e outros (de 1978) – também premiado num concurso no Rio, da Remington – levou uns sete anos para ser escrito. Nele eu pretendi usar um tom diferente. Singradura é um livro mais lírico, com histórias mais curtas, o humor existe, mas é mais contido, enquanto que o Zélica é um livro mais de farsa, de sátira, de humor, carrega mais para o picaresco. O ambiente e a época são os mesmos, mas o tom dos livros é diferente.


DC Cultura – Na Globo, além de se encarregar das traduções de dois livros de Jorge Luis Borges, o senhor também foi responsável pelo Magazine de Ficção Científica após a morte do escritor e editor Jerônymo Monteiro. Como foi essa experiência?


Flávio
– A Globo já publicava o Mistério Magazine de Ellery Queen, conhecidíssimo entre os que cultuam o gênero policial. Entre tantas iniciativas, a Globo marcou muito toda uma geração de leitores por publicar histórias policiais e de aventura. O Jerônymo Monteiro chegou, no começo de 1970, sugerindo que a Globo fizesse aqui no Brasil a versão da revista que existia nos Estados Unidos (Fantasy & Science Fiction – F&SF, publicada pela Mercury Press, de Nova York), e o seu Henrique Bertaso topou. O Jerônymo foi o primeiro diretor da revista. Nós recebíamos o número do mês lá dos Estados Unidos, mandávamos traduzir (quem fazia as versões era a equipe de tradutores da Globo (Noé Gertel, Aydano Arruda, Norma Pinheiro Machado, Renato Janine Ribeiro, Rosaura Eichenberg, entre outros). O Jerônymo inovou ao publicar em cada número um conto de um autor brasileiro. Ele tentou movimentar essa coisa no Brasil e conseguiu. Com a morte do Jerônymo (em junho de 1970), eu passei a cuidar da revista. Saíram ao todo 20 volumes mensais, de abril de 1970 a novembro de 1971. Não foi possível continuar porque a revista não dava lucro, precisávamos vender 6 mil exemplares mensais para ela se pagar, e nunca chegou nem perto disso. Além da ficção, tinha uma sessão de divulgação científica assinada pelo (Isaac) Asimov. Mas foi uma boa experiência.

DC Cultura – Além disso, o que mais o senhor fez na editora?


Flávio
– Fui secretário da editora durante vários anos, e competia a gente organizar, cuidar do fluxo editorial, cuidar das traduções, da revisão, ver o departamento de arte (a Globo tinha uma equipe de arte excelente). Mas o grande momento da Globo foi nos anos 1940, 1950, quando estava lá o Erico Verissimo como braço direito do seu Bertaso. Eles já tinham publicado aquelas coleções famosas, como a da Biblioteca dos Séculos; já tinham traduzido Proust. Os tradutores eram poetas como Quintana, Bandeira, Drummond. O Paulo Rónai organizou A Comédia Humana. Isso tudo já havia acontecido quando eu entrei lá. Peguei uma fase em que a Globo já estava trabalhando muito mais com livro técnico e didático. A grande fase da literatura já havia passado.


DC Cultura – E como chegou para o senhor a tradução do Borges.


Flávio
– A tradução do Borges se deu em função de uma sugestão que a Cremilda (Medina) e eu fizemos ao José Otávio Bertaso, o filho do seu Henrique, que era o diretor editorial. O Borges ainda não havia sido traduzido no Brasil. O José Otávio concordou, e daí entramos em contato com a Emecé, a editora que publicava os livros dele na Argentina, e com o agente dele em Buenos Aires e firmamos o contrato para publicá-lo no Brasil. O primeiro livro foi Ficções, convidamos o (Carlos) Nejar para traduzir, e imediatamente depois saiu O Aleph, e eu entrei nessa de traduzir o Borges. Foi uma experiência interessante, mas nada fácil. O fato de ser em espanhol não facilita as coisas, até dificulta, porque te leva a tremendas armadilhas, próprias do Borges. Ele era um erudito que se humanizava mais com a linguagem. Ele mesmo dizia que procurava reduzir a linguagem dele ao mais simples possível para dar a impressão de que aquilo não lhe dera nenhum trabalho para escrever. Depois publicamos os outros livros dele (História Universal da Infâmia, O Informe de Brodie, O Livro de Areia, Elogio da Sombra e O Livro dos Seres Imaginários). Hoje, depois que a Globo foi vendida para o Roberto Marinho e os direitos passaram para a Companhia das Letras, o Borges está todo retraduzido.


DC Cultura – Até quando o senhor ficou em Porto Alegre?


Flávio –
Até 1975. Eu já estava interessado em voltar para Santa Catarina. Cheguei a receber um convite para ir trabalhar em São Paulo, mas eu resolvi ficar em Florianópolis. Vim para trabalhar como diretor da Imprensa Oficial de Santa Catarina, no governo do (Antonio Carlos) Konder Reis (1975-1979). Foi uma indicação do irmão dele, Marcos Konder Reis, um grande poeta e um grande amigo, e também do Nereu Correa e do Silveira Júnior. Fiquei como diretor industrial da Imprensa Oficial durante uns 11 anos, e também trabalhei na Fundação Catarinense de Cultura. Daí eu me aposentei.

DC Cultura – Foi nessa época que o senhor começou a escrever as crônicas diárias no Diário Catarinense?

Flávio
– Eu ainda estava na Imprensa Oficial quando o Armando Burd (ex-editor do DC) me apareceu lá com esse convite que, a princípio, achei uma maluquice. Uma crônica por dia! Nunca tinha escrito uma crônica por dia. O máximo que eu tinha feito era uma ou duas no jornal O Estado, e achava aquilo uma coisa civilizada, uma vez por semana. Mas o Armando veio com essa proposta indecente. Eu não o conhecia, quem o levou foi o Iaponam (Soares). Eu não dei resposta, porque aquilo me pareceu uma coisa problemática. Eu trabalhava o dia inteiro, e fazer isso todo o dia, eu que não era jornalista, que não tinha a rapidez que o jornalismo diário exige. E uma crônica por dia, assinada, me pareceu, desde logo, um compromisso muito sério. Levou mais de mês até ele me convencer. Foi bem no começo do DC. Fiquei um mês escrevendo só internamente, fazendo os pilotos, até a estreia do jornal, em maio de 1986. Fiquei oito anos escrevendo lá. Até hoje eu me pergunto como é que eu consegui escrever tudo isso. Foi uma experiência e tanto. E me fez usar mais ainda aquele critério que eu aprendi com o frei Romeu, de trabalhar com a palavra. Eu tinha que pegar o meu texto e jogá-lo num espaço delimitado, previamente conhecido. Às vezes eu soltava um pouco e, depois, tinha de cortar.


DC Cultura – Qual é a maior dificuldade da crônica diária; é o tema, o assunto, ou a necessidade do poder de síntese?


Flávio
– Com base nessa minha experiência, que não foi tão pequena assim, de oito anos, acho que posso dar um bom depoimento. Acredito que não é o tema em si, porque aquele tipo de crônica, aquele tipo de texto, admite qualquer assunto, até mesmo a falta de assunto. Várias vezes eu usei a falta de assunto como assunto, e não há cronista que não tenha feito isso. Eu até andei pensando em montar uma antologia sobre a falta de assunto na crônica brasileira. Daria um belo livrinho. Mas tem uma história boa sobre isso. Um dia, num lançamento de um livro meu lá na UFSC, chegou um sujeito que se apresentou como leitor das minhas crônicas. E ele disse que o que mais gostava era quando ele percebia que eu estava sem assunto, porque daí ele ficava doido para saber como é que eu conseguia chegar até o final mantendo a sua curiosidade. Então, eu acho que a grande dificuldade não é o assunto em si, mas como tratar do assunto de uma forma que mantenha o leitor interessado. Porque a crônica do jornal compete pelo leitor com a página de esporte, a de política, a de polícia. A disputa é muito grande, por isso é preciso pegar o leitor pelo pé e fazer ele ir até o final. O desafio é este. A linguagem tu estabeleces, tu crias a tua maneira de falar com o leitor, mas o negócio é criar esse visco, esse jeito de prender a atenção do leitor. Acho que nesse caso funciona muito bem o humor, e o Jair é um mestre nisso. O humor é fundamental, e também criar umas surpresas, umas sutilezas. É um jogo. Porque os jornalistas têm a objetividade por norma, por imperativo, mas o cronista, ali naquele cantinho de página, pode fazer o diabo, pode mentir, virar tudo de perna para cima, pode fazer o que quiser. Mas precisa fazer isso de uma maneira que prenda o leitor.


DC Cultura – O senhor publicou contos e crônicas, mas nunca pensou em escrever um romance? O Guatá, de certa forma, é um livro de contos que pode ser lido como romance?

Flávio
– Quando me mandaram a prova final do livro, me perguntaram o que é que eu queria colocar na ficha catalográfica, se conto ou romance. Eu pedi que colocassem contos, mas eu acho que o livro tem um clima, uma estrutura, de romance, porque se passa numa determinada época, com personagens recorrentes que aparecem aqui e ali. Não há uma trama grande que configure um romance, mas aqueles contos todos têm uma certa unidade. Mas, no fundo, são contos. Eu tenho um plano de escrever um romance, mas não sei se eu vou conseguir realizá-lo, porque o tema que eu escolhi é um pouco ambicioso. Seria aqui na Ilha, um livro chamado Ponta dos Naufragados, que abordasse o passado remoto, como a história dos náufragos de mil quinhentos e tanto, do Aleixo Garcia, e, ao mesmo tempo, a Ilha atual, da maneira como ela está, como ela é, considerada por muitos como uma Ilha de salvação, mas, na verdade, à beira do naufrágio. Seria uma coisa assim, jogando com o passado e o presente, mas eu acho (o projeto) um pouco ambicioso. Tem outro projeto que a ação se passa lá nas minas de carvão, seria um romance também. Tenho uns esboços, alguma coisa já desenvolvida, mas eu deixo isso bem devagar, em silêncio.


DC Cultura – Explique como é a sua atuação junto às escolas, quando vai falar com os alunos sobre os seus livros e sobre literatura?


Flávio
– Essa experiência na escola para mim é fantástica. Posso dizer que tenho ido a inúmeras escolas de Santa Catarina, em função dos livros meus que as editoras promovem entre o publico infanto-juvenil. Eu tenho dois livros pela FTD, Zélica e outros e Uns papéis que voam, e, um pela Saraiva, O tesouro da Serra do Bem-Bem. é realmente uma coisa muito boa, muito gratificante. Como escritor eu me sinto, nessas ocasiões, socialmente útil. Não se trata ali de um escritor que escreve para adulto, e que não vai modificar, nem tem a pretensão de modificar, o pensamento de ninguém, não é essa a função dele. Mas, indo ali nas escolas, escrevendo livros infantis, conversando com aqueles alunos, a gente sabe que está contribuindo, de verdade, pela elevação intelectual daquelas crianças. No mínimo, despertando o gosto pela palavra, pela fantasia, por um mundo diferente. E facilitando, também, o aprendizado delas como estudantes. Porque a leitura predispõe a criança a aprender melhor qualquer matéria, não só o português. Não é só a linguagem, não é só a literatura. Porque a criança que lê, que discute, vai aprender melhor qualquer outra matéria, passa a usar melhor as soluções que o cérebro pode possibilitar. Como autor, eu me sinto mais realizado é com esse trabalho. Acho que todo autor, em certo momento de sua vida, deve procurar escrever para crianças e se dispor a ir dialogar com elas. A chave de tudo é despertar a curiosidade delas. Esse livrinho, por exemplo, O tesouro da Serra do Bem-Bem, é simples, mas para escrevê-lo eu tive de pensar muito para criar um momento de suspense, um momento de expectativa, um momento de magia, situações para prender a atenção deste tipo de leitor. Coisas que eu aprendi um pouco escrevendo para adultos, mas que na criança funciona muito mais. Facilita porque soa mais sincero. Escrevendo para criança, a gente volta a ser criança, tem que voltar. Se tu não escreves com a cabeça da criança, não funciona. Tem que brincar no livro, ser todas as personagens, viver aquelas estripulias. E a resposta é sempre muito boa.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Apresentação

Sou a professora Iolanda e trabalho na Escola Laureano Pacheco. Sou apaixonada pela minha profissão, a legítima brasileira que não desiste nunca. A convivência com os alunos me torna cada vez mais forte.